26 de jun. de 2025
Depois de passar por seis cidades da Amazônia brasileira, a Bienal das Amazônias atravessa fronteiras e chega à Colômbia para realizar sua primeira itinerância internacional. A mostra “Bubuia: águas como fonte de imaginações e desejos” será inaugurada no próximo dia 16 de julho no Museo de Arte Moderno de Medellín (MAMM), onde permanecerá em cartaz até 27 de fevereiro de 2026.
A exposição reúne 114 obras de 54 artistas e coletivos que integraram a primeira edição da Bienal, realizada em 2023, em Belém (PA), e que se dedicou a revelar cosmovisões, práticas estéticas e imaginários produzidos a partir da região pan-amazônica. A mostra em Medellín marca um passo significativo na projeção internacional do projeto.
A realização da itinerância “Bubuia” em Medellín conta com o patrocínio master do Nubank, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
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Inspirada no conceito de “dibubuísmo”, criado pelo poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro, a exposição parte da água como metáfora e matéria, invocando os fluxos simbólicos, sociais, culturais e espirituais que conectam os povos amazônicos. A bubuia, movimento de flutuação nos rios, é convocada como gesto poético-político de permanência, resistência e imaginação.
Desde sua criação, a Bienal das Amazônias propõe uma reflexão crítica sobre os modos de fazer arte no território amazônico, rompendo com leituras estereotipadas e simplificadoras. Em sua primeira edição, reuniu mais de 120 artistas e coletivos de oito países da Pan-Amazônia, além da Guiana Francesa. Esses países compartilham, além da floresta, formas de vida entrelaçadas à biodiversidade, aos rios e à sabedoria ancestral dos povos originários, ribeirinhos e quilombolas.
A mostra “Bubuia” já percorreu as cidades de Marabá (PA), Canaã dos Carajás (PA), São Luís (MA), Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Macapá (AP). Agora, em Medellín, amplia o diálogo com outros territórios latino-americanos e fortalece os vínculos entre instituições culturais do Sul Global.
A cerimônia de abertura será realizada no dia 16 de julho, às 17h, no MAMM, e contará com a apresentação de Canções Ancestrais, performance musical de Tránsito Rodríguez, da etnia Muinane (clã Piña), e Dulfay Rodríguez Rodríguez, da etnia Nonuya (clã Gavilán) — duas mulheres que vivem na Amazônia na fronteira entre Colômbia e Brasil. A performance “O Mundo Witoto: Bora, Muinane e Nonuya” celebra a tradição oral e a força da ancestralidade expressa nas línguas e nos cantos de resistência das famílias linguísticas Bora-Witoto.
Para a diretora do Museo de Arte Moderno de Medellín, María Mercedes González, sediar a primeira mostra internacional da Bienal das Amazônias representa uma oportunidade de aproximar o público colombiano das narrativas presentes na exposição.
“Esta exposição representa uma oportunidade inestimável para aproximar o público colombiano das expressões artísticas que emergem de um território fundamental para a sustentabilidade do planeta. No MAMM, reafirmamos nosso compromisso com a disseminação da arte e a criação de espaços de reflexão crítica. Continuamos trabalhando para trazer à cidade novas vozes, perspectivas e contextos que enriqueçam nossa compreensão da Amazônia e fortaleçam nossos esforços para preservá-la”.
A inauguração terá a presença das curadoras da primeira Bienal das Amazônias, Keyna Eleison e Vânia Leal, para falar sobre o conceito curatorial e os desdobramentos a partir das obras que compõem o recorte criado para Medellín.
“Itinerar em Medellín, cidade da Colômbia, nos coloca numa dialogicidade ampliada em que territórios se confluem significativamente numa comunhão social, política e cultural. A primeira Bienal marca um grafo na Amazônia e no mundo com o objetivo de ressaltar vozes amazônidas que ecoam de dentro da floresta. Como muito bem aponta nosso partido curatorial Bubuia: águas como fonte de imaginações e desejos, os percursos do rio mar se espraiam numa hidrosolidariedade mágica das águas que afirmam: somos todos irmãos!”, ressalta Vânia Leal.
A Bienal das Amazônias nasceu no Sul Global (América Latina) e vem se firmando como uma instituição cujo desejo é reverberar o poder narrativo dos povos amazônicos, em muito invisibilizados ou tomados por terceiros. No entender da idealizadora e presidente da Bienal, a produtora cultural Lívia Condurú, as ações planejadas pela instituição geram “o deslocamento do debate sobre as artes, seu status quo e poderes de transformação econômica e social, que, historicamente, têm partido dos eixos dominantes do mercado das artes”.
“Apesar da multiplicidade de realidades vividas nos estados e países que compõem a Amazônia Legal, estamos habituados a assistir pessoas e projetos usando o nome da Amazônia de maneira rasa e irresponsável, cheia de conceitos como ‘sustentabilidade’, ‘carbono neutro’ e ‘pulmão do planeta’, que pouco reverberam na realidade local”, avalia. Conduru defende que é urgente que se enxergue as Amazônias para além do seu bioma. “Não há floresta que se mantenha em pé, quando toda a sociedade que existe nela não é ouvida, não é ‘convidada’ a participar de maneira ativa do debate”, pontua.
Para a curadora Keyna Eleison, a Bienal busca romper com algumas ideias convencionais, embora seja, em essência, uma exposição de arte. “As cosmo-percepções, as soluções e as cosmovisões dos artistas conversam entre si. No entanto, esta é uma exposição que deseja trazer uma não conformidade em relação ao que a gente vê no encontro com a arte, mas, mesmo assim, não deixa de ser uma exposição de arte”, aponta.
Keyna Eleison é curadora, escritora e pesquisadora; narradora, cantora, cronista ancestral e gestora cultural, com mestrado em História da Arte e especialização em História e Arquitetura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É ainda bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membra da Comissão do Patrimônio Africano para laureação da região do Cais do Valongo como Patrimônio da Humanidade (UNESCO). Foi gestora de todos os centros culturais do Município do Rio de Janeiro no período de novembro de 2015 até janeiro de 2017 e coordenadora pedagógica da Escola Livre de Artes Visuais - Parque Lage entre 2018 e 2019. Em sua extensa experiência, ainda foi curadora da 10ª Bienal Internacional SIART, na Bolívia, e diretora artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), entre 2020 e 2023. Atualmente, é cronista da “Contemporary &” e curadora da Bienal das Amazônias 2023. Sua atuação é significativa no desenvolvimento de exposições e significados de obras de arte e artistas, orientação de processos artísticos, curadoria de exposições, ensino de arte, tendo como precedente na coordenação em educação artística e narrativa o reforço à relação de passagem e captura de conhecimento oral.
Natural do Estado brasileiro do Amapá, Vânia Leal é mestra em Comunicação, Linguagem e Cultura. Foi curadora Educacional do Projeto Arte Pará e, até hoje, atua na área de curadoria e pesquisa em Artes, tendo participado de inúmeros júris na área. Vânia foi avaliadora de seleção Rumos Itaú Cultural nas edições 2015 e 2016; e 2017/2017, curadora indicadora Prêmio Pipa 2017, curadora da Exposição “Mastarel: Rotas Imaginais”, da artista Elaine Arruda no Banco da Amazônia em 2019 (Belém-PA), curadora da exposição “Tecidos de Certeza”, da artista Elisa Arruda na Galeria Elf em 2019 (Belém-PA), membra da comissão de seleção do 24º Salão Anapolino de Arte em 2019 e membra da comissão de Seleção do Edital Rumos Itaú Cultural 2019/2020.
Vânia também foi curadora da exposição “Em Casa”, da artista Elisa Arruda, no Banco da Amazônia, em 2021 (Belém-PA), organizadora da Coleção Guajará para o Museu de Artes Plásticas de Anápolis (GO) em 2021, curadora das exposições da Coleção Eduardo Vasconcelos “Afetos Múltiplos” (Belém-PA, em 2021), “Desnudo” (Belém-PA, em 2022) e “Gravado na Alma” (Belém-PA, em 2023), curadora da primeira Bienal das Amazônias em 2022 e 2023, júri do Programa de Residências do Instituto Inclusartiz (RJ) em 2022, membra da comissão julgadora do 32º Programa de Exposições CCSP – Centro Cultural São Paulo 2022, e curadora da exposição “A Inversão do Cotidiano”, da artista Elisa Arruda, na Galeria Ruy Meira (Belém-PA, em 2022).
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